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MENIRE

Mulheres Xikrin do Bacajá

No médio rio Xingu, onde a água desenha em torno da terra uma volta grande, a vida se afirma a despeito das investidas de poder dos brancos contra a floresta, que visam unicamente ao lucro e à morte. Ali, nas proximidades de outro rio, o Bacajá, estão os povos mẽbêngôkre-Xikrin da Terra Indígena Trincheira Bacajá (TITB). 

 

Nesse território, historicamente disputado e ameaçado por atividades que promovem paulatinamente o desmatamento, a morte das águas dos rios, da terra, das mulheres, homens e crianças que vivem com a floresta, as mulheres Xikrin -  menire - fazem do conhecimento ancestral e do próprio movimento cotidiano um levante contra a morte que se anuncia, dia a dia, pela sequidão dos rios, o desaparecimento de espécies e o desmatamento predatório.

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As menire são mantenedoras da vida. No espaço que comungam com a terra, cabe-lhes o plantio e a colheita da roça;  o preparo dos alimentos, fruto da caça feita pelos homens; o abastecimento de lenha e água nas aldeias; a coleta do coco babaçu e sementes que se transformam, pelas suas mãos, em óleo e artesanato; cabe à elas a pintura, os grafismos, o desenho do movimento, a partir das cores extraídas do urucum e jenipapo. Através de seus corpos, a fala que se enuncia é forte e a palavra circula: são fontes de conhecimento inesgotável e reafirmação constante da memória.

 

Todo esse universo alicerçado pelas menire permite  que os saberes e tradições se estabeleçam pelas trocas partilhadas nos espaços da casa, da roça e da  floresta. A partir deles, desdobram-se outros desejos: o de construir autonomia dos seus povos e manter a floresta de pé frente às investidas destrutivas de agentes externos.

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produtos da biodiversidade pela proteção da floresta

A partir da necessidade de construir autonomia e gerir ainda mais os cuidados com a floresta, as menire se engajaram junto a outros parceiros, como a ABEX e IBXIKRIN, no mundo dos projetos, fazendo das práticas ancestrais e cotidianas um modo de lutar contra a política de morte que se instalou nos territórios por meio da chegada da  Usina de Belo Monte, do desmatamento compulsório e grilagem. Nesse sentido,  as mulheres começaram a se articular para começar o plantio de uma roça coletiva em que os alimentos, frutos das colheitas, fossem distribuídos para a feitura da merenda escolar na comunidade. Essa experiência foi um grande passo para que os laços entre as menire de diferentes aldeias fossem estreitados.

Elas não pararam por aí. Em 2017, empenharam-se para garantir a  consolidação e fortalecimento da extração do óleo de coco babaçu. As menire, que já eram responsáveis pela colheita do coco e extração do óleo, conseguiram inseri-lo no mercado de produtos da sociobiodiversidade. O processo que envolve a colheita do coco é extremamente importante, pois a partir dele é possível que o espaço da floresta seja mapeado, a fim de se localizar as áreas de desmatamento ou de invasões ilegais. Além do óleo, as menire também produzem tecidos pintados com diversos grafismos, que se transformam em roupas, bolsas, estojos, cadernos e mochilas.

Essas atividades, o que se origina delas: o óleo de babaçu, o artesanato, seguidos do acesso aos mercados sociais para produtos da sociobiodiversidade não promovem apenas o fortalecimento econômico e autonomia das menire dentro das aldeias, mas ajudam na manutenção do território: permitem que a floresta seja protegida e não sucumba à destruição. As mãos da mulheres que se engajam nesse processo investem, sobretudo, na potência e manutenção da vida, já que cuidar da terra é também cuidar de si.

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